*João Augusto Pompéia; Bile Tatit Sapienza. Os Dois Nascimentos do Homem: escritos sobre terapia e educação na era da técnica.
Capítulo 7 - A Terapia e a Era da Técnica.
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Anotação: Daseinanalyse se preocupa com a cura?
· Daseinanalyse não dá garantia de nenhum resultado, não visa à cura, e leva tempo.
· Significa que ela não tem compromisso com nada? Para que ela serviria? Ela produz algum efeito? Quais critérios? Há como avaliar se a terapia produziu mudança?
· Estas questões trazem sentido em nossa época – imersos no mundo da técnica.
· A terapia Daseinanalítica não se encaixa nos parâmetros que vigoram neste nosso tempo = objetividade, pressa, controle.
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Anotação: Técnica não é um mero procedimento, mas uma burocratização da modernidade.
· Técnica não é simplesmente sinônimo de procedimento, pois o procedimento pode ter características pessoais, um jeito próprio.
· A técnica é impessoal, ela é autônoma com relação ao sujeito, pode ser usada por não importa quem, contanto que seja bem aprendida.
· O que ela produz também deve servir para qualquer pessoa a quem se destina o produto.
· O importante é que haja um objetivo bem definido e especificação dos meios e instrumentos.
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Anotação: Mundo Contemporâneo e Técnica / Terapia seguindo técnica.
· A própria técnica gera mais técnica – de maneira autônoma.
· Ela se impõe como aquilo que dá a cara do mundo contemporâneo.
· É compreensível que a terapia seja vista e avaliada dessa mesma perspectiva, pelos mesmos parâmetros: precisão de objetivos, eficácia, rapidez, apresentação de resultados.
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Anotação: Quem domina a técnica elabora o diagnóstico? Na fenomenologia nós elaboramos o diagnóstico?
· A pessoa ao chegar expressa o seu desejo de que o terapeuta seja capaz de livrá-la de alguma coisa que está atrapalhando e precisa ser extirpada de sua vida... e depressa!
· Existe uma questão humana em jogo, cujo sentido mais amplo fica perdido na maneira como o mundo da técnica costuma aproximar o humano.
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Anotação: O que o terapeuta pode oferecer para o paciente?
· O que o terapeuta pode é ter o compromisso de percorrer com o paciente um caminho em que, juntos, se aproximarão da história vivida por ele, dos seus modos de ser consigo mesmo e com os outros, dos seus planos de futuro, do que tem constituído a sua vida, incluindo aí aquilo pelo que ele procurou a terapia.
· O terapeuta pode oferecer ao paciente é a parceria na procura pela verdade da história, da qual fazem parte o seu momento atual, o já vivido e o que está por vir, pois essa história está sempre em aberto e reúne sua realidade, sonhos, conquistas e perdas; história que é a sua identidade.
· O tempo que durar essa procura poderá ser a oportunidade para que o paciente se dê conta de seu jeito de ser no mundo, para que ele amplie sua compreensão de si mesmo como alguém que tem responsabilidade pelo cuidado de sua vida, cuidado esse que abrange os outros e o mundo.
· O terapeuta não sabe quanto tempo será necessário. Basta isso para vermos como essa concepção de terapia se afasta dos parâmetros do tempo da técnica.
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Anotação: Dasein existe para aquilo que silencia?
· Mundo: horizonte de possibilidades de manifestação dos entes. O qual atualmente é configurado pela técnica.
· Contudo, mesmo com essa configuração, mundo traz sempre consigo uma força de projeto, que jamais se resumem a uma possibilidade particular qualquer. Qualquer possibilidade particular encerra em si algo silenciado.
· Embora o Dasein seja sempre enraizado em seu mundo fático e possa se perder nas referências cristalizadas do seu mundo cotidiano. Ele também pode ser sintonizado com o que está silenciado em seu mundo e que, ao mesmo tempo, espera para ser acordado.
· O que silencia é aquilo que permanece retraído, encoberto (não como mera negação dos entes), mas no encobrimento, traz em si a possibilidade de que haja a abertura para a manifestação dos entes, para o mundo como horizonte.
· Dasein: existe (ek-siste) aberto não só para o mundo como horizonte de tudo o que se manifesta, mas também para aquilo que se retrai, que se oculta e silencia.
· Por isso apesar da exuberância gritante da técnica, há a possibilidade de prestarmos atenção e darmos ouvidos ao que silencia, ao que fica no encobrimento.