*Paulo Dalgalarrondo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.
Capítulo 2 - Definição de Psicopatologia e Ordenação de seus Fenômenos.
Definição de Psicopatologia
v Conceito de Campbell (1986): psicopatologia como ramo da ciência que trata a natureza essencial da doença mental – suas causas, mudanças estruturais e funcionais e suas formas de manifestação.
v Conceito amplo: conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano.
a) Esforça-se para ser sistemático, elucidativo e desmistificante;
b) Visa ser científico, não inclui critérios de valor, nem aceita dogmas ou verdades a priori.
v Psicopatólogo: não julga moralmente o seu objeto, busca apenas observar, identificar e compreender os diversos elementos da doença mental. O conhecimento que busca está permanentemente sujeito a revisões, críticas e reformulações.
v Campo da psicopatologia: vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica, e por outro, conexões complexas com a psicologia do normal.
v Raízes da psicopatologia:
a) Tradição médica que propiciou a observação prolongada e cuidadosa de um considerável contingente de doentes mentais.
b) Tradição humanística (filosofia, literatura,artes, psicanálise) que sempre viu na “alienação mental” uma possibilidade rica de reconhecimento de dimensões humanas, que sem este fenômeno permaneceriam desconhecidas.
v Conceito de Karl Jaspers (1883 – 1969): é uma ciência básica, que serve de auxílio à psiquiatria, a qual é, um conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta.
a) Limites da psicopatologia: embora o objeto de estudo seja o homem na sua totalidade, seus limites consistem em que nunca se pode reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos.
b) Domínio da psicopatologia: estende-se a todo fenômeno psíquico que possa apreender-se em conceitos de significação constantes e com possibilidade de comunicação.
c) Psicopatologia como ciência: exige um pensamento rigorosamente conceptual e sistemático e que possa ser comunicado de modo inequívoco.
d) Oculto do indivíduo: quanto mais reconhece e caracteriza o típico de acordo com princípios, mais reconhece que, em todo o indivíduo, se oculta algo que não pode conhecer. Perdendo aspectos essenciais do homem, nas dimensões existenciais, estéticas, éticas e metafísicas.
Forma e Conteúdo dos Sintomas
v Forma: sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade afetiva, etc).
v Conteúdo: o que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc).
a) É mais pessoal e dependem da história de vida do paciente, seu universo cultural e personalidade prévia ao adoecimento;
b) Relacionam-se a temas centrais da existência humana;
c) Esses temas representam uma espécie de substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica.
A Ordenação dos Fenômenos em Psicopatologia
v Estudo da doença mental: Inicia-se pela observação cuidadosa das manifestações. É preciso produzir, definir, classificar, interpretar e ordenarem determinada perspectiva.
v Classificação Aristotélica: o problema da classificação é a questão de unidade e variedade dos fatos e conhecimentos que sobre eles são produzidos.
v Fenômenos Humanos para a Psicopatologia:
a) Fenômenos semelhantes: a todas as pessoas, experiências semelhantes a todos (fome, sede, sono, medo).
b) Fenômenos em parte semelhantes e em parte diferentes: fenômenos que o homem comum experimenta, mas apenas em parte são semelhantes ao que o doente mental vivencia (tristeza).
c) Fenômenos qualitativamente novos, diferentes: praticamente próprios apenas a certas doenças e estados mentais (psicóticos, alucinações, delírios, etc).