*Silvia Ancora Lopez. Psicodiagnóstico Interventivo: Evolução de uma prática.
Capítulo IV - Movimentos Transferenciais no Psicodiagnóstico Interventivo.
1) Prática do Psicodiagnóstico
a) É realizado em geral por profissionais que trabalham nas abordagens psicanalíticas ou fenomenológica-existencial.
b) O psicodiagnóstico é encarado como um momento privilegiado para a obtenção de efeitos terapêuticos, ou seja, não se encerra na coleta de dados.
c) Ajudam a discernir sobre o encaminhamento e orientar o futuro processo psicoterápico.
d) Os próprios movimentos transferenciais e contratransferenciais serão entendidos como dados a serem colhidos.
e) O que o paciente transfere para o psicólogo e o que isso lhe provoca, permite a caracterização do tipo de vínculo que o paciente estabelece.
f) Intervir no presente, no qual as inquietações e sofrimentos do paciente o mobilizam a pedir ajuda, não delegando as intervenções somente para o processo terapêutico.
2) Psicodiagnóstico em grupo:
a) Tem o objetivo de produzir movimentos de identificação e diferenciação, favorecendo o conhecimento de si.
b) Preenche o espaço entre a entrevista inicial e final com uma série de devolutivas parciais.
c) Intercalam-se os atendimentos das crianças com as devolutivas parciais aos pais.
d) Alunos e supervisores trabalham juntos: ao supervisor cabe a coordenação e condução do grupo, e aos alunos, cabe o lugar de co-terapeutas. Permite ao aluno o contato com o cliente e assistir o manejo do grupo pelo supervisor.
e) O coordenador do grupo recebe de forma mediada e compartilhada o impacto transferencial, fenômeno que facilita a sustentação do lugar clínico.
3) Psicodiagnóstico Compreensivo de Trinca (1984)
a) Observação da relação psicólogo-paciente é vantajoso para a apreensão dos fenômenos emocionais.
b) Não basta apenas capturar o jogo transferencial como um dado relevante para compor sua caracterização psicológica.
c) Vive-se a transferência necessitando de sua força para o acontecimento do processo e para fecundidade das intervenções.
4) Posição de Objeto Subjetivo
a) O psicólogo ou a instituição ocupam a posição de objeto subjetivo para os pais que procuram atendimento para os seus filhos.
b) Winnicott (1984) fundamenta a prática na relação subjetiva de objeto que a criança estabelece com o terapeuta.
c) Há um movimento da criança e também dos pais, que procuram criar o objeto (terapeuta) de que necessitam naquele momento.
d) Precisamos reconhecer qual a problemática que a criança precisa tratar, a partir de qual necessidade, a criança nos coloca no lugar de objeto subjetivo?
e) Winnicott: os relacionamentos objetais iniciais são, quando favorecedores do desenvolvimento do bebê, necessariamente subjetivos.
f) É importante que essa mesma qualidade subjetiva inicial esteja presente na transferência das relações terapêuticas.
5) Consultas Terapêuticas
a) Adaptação ativa do terapeuta as necessidades da criança, se necessária, a comunicação verbal desse entendimento no momento adequado.
b) O objetivo essencial é o favorecimento da integração de aspectos dissociados ou não vividos pela criança.
c) Transferência: movimento que inicia e possibilita reparar falhas ambientais que teriam ocorrido no processo maturacional da criança.
d) Transferência para Winnicott: repetição presente de uma relação do passado, no acontecido, e a esperança de viver o que não aconteceu e, portanto, busca da realização.
6) Encaminhamento
a) Obrigatoriedade de efetuarmos um encaminhamento apropriado e eficaz, que possa de fato atender as necessidades do paciente e de sua família, este é o objetivo último de uma avaliação psicológica.
b) Busca-se demarcar claramente o alcance e os contornos do processo.
c) Procura-se manter o enquadre específico, e ao mesmo tempo em que sustentamos a esperança pela cura:
i. Conversando com as crianças e suas famílias sobre suas dificuldades;
ii. Oferecendo informações sobre o desenvolvimento humano;
iii. Realizando devolutivas que veiculam interpretações sobre o sentido dos sintomas apresentados;
iv. Que abram novas possibilidades de entendimento sobre suas formas de viver.
7) Modelo norteador do psicodiagnóstico – Winnicott (Jogo da Espátula):
a) Hesitação – momento inicial, exploração do território terapêutico e estrutura a comunicação;
b) Brincar com a espátula – segundo momento, realiza a comunicação, trabalho terapêutico produtivo, paciente vive a experiência de ser compreendido;
c) Jogar a espátula – terceiro momento, paciente pode ir embora, experiência completa, possibilidade de ter colocado sua questão em devir.
i. É importante que o terapeuta não se coloque como uma presença necessária e excessiva.
ii. Seria importante que em cada sessão ocorre as três etapas do jogo da espátula.
8) Técnica para período de encerramento
a) Linha do tempo: construção de um trajeto temporal que retoma as etapas do psicodiagnóstico.
b) Inicia-se com o supervisor relembrando que este é o penúltimo atendimento .
c) Assim registrar na cartolina a história dos nossos encontros, representa cada atendimento com a ajuda dos estagiários.
d) Esta atividade intenciona ajudar a criança a “jogar a espátula”, oferecer suporte material para este acontecimento, estabelecendo um campo da experiência.
e) Funciona como mais um momento diagnóstico, pois ao representar cada atendimento, a criança seleciona um fato significativo que precisava comunicar e assim, se pode certificar as hipóteses diagnósticas.
f) Identificamos também efeitos terapêuticos que podem ter surgido ao longo do processo.
9) Intercorrências no Processo Psicodiagnóstico
a) Grupo de estagiários: relação entre si, com os pacientes e com o próprio supervisor.
b) Dificuldades de relacionamento entre os pacientes.
c) Dificuldades de calendário e atravessamentos institucionais.
d) Dificuldades na própria problemática apresentada pelo paciente
e) Resistências que impedem o desenvolvimento, impedem a abertura para a cura, resistem a percepção do novo, constrangem o movimento de mudança.
i. Resistência por Winnicott: hesitação refere-se a duas situações, anseio em encontrar algo que necessitava, uma experiência nova, prazerosa e constitutiva, a outra, o paciente estar diante de angústias impensáveis, presentes no estágio inicial do desenvolvimento.
f) A necessidade de lidar com a transferência negativa reforça a posição de que, mesmo em etapa diagnóstica, o psicólogo deve colocar-se em lugar interventivo, ajudando o paciente a assumir o encaminhamento e continuar vinculado à clínica.