*Paulo Dalgalarrondo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.
Capítulo 3 - O Conceito de Normalidade em Psicopatologia.
Conceito de Normalidade: apresenta grande controvérsia em psicopatologia.
v Quando se trata de casos extremos, cujas alterações comportamentais e mentais são de intensidade acentuada e de longa duração, o delineamento entre as fronteiras do normal e patológico não é problemático.
v Há casos limítrofes que a delimitação do conceito é difícil, ganhando especial relevância.
v Este conceito também implica a definição do que é saúde e doença mental.
v Apresenta desdobramentos em várias áreas da saúde:
1. Psiquiatria legal e forense: determinação de anormalidade tem implicações legais, criminais e éticas podendo definir o destino social, institucional e legal de uma pessoa.
2. Epidemiologia psiquiátrica: o conceito é problema e objeto de trabalho e pesquisa.
3. Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria: o conceito de normalidade impõe análise do contexto sociocultural; estudo da relação entre fenômeno supostamente patológico e o contexto social no qual tal fenômeno emerge e recebe este ou aquele significado cultural.
4. Planejamento em saúde mental e políticas de saúde: estabelecer critérios de normalidade, verificar demandas assistenciais e as necessidades de serviços.
5. Orientação e capacitação profissional: definição de capacidade e adequação de um indivíduo para exercer certa profissão.
6. Prática clínica: discriminar no processo de avaliação e intervenção qual fenômeno é patológico ou normal, se faz parte de um momento existencial ou é algo francamente patológico.
Critérios de Normalidade: há vários critérios de normalidade e anormalidade em medicina e psicopatologia.
v Varia de acordo com opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional.
v Os principais critérios utilizados em psicopatologia são:
1. Normalidade como ausência de doença.
a) Indivíduo que não é portador de um transtorno mental definido.
b) Critério falho e redundante, pois, define normalidade por aquilo que ela não é.
2. Normalidade Ideal.
a) Tomada como certa utopia.
b) Estabelece uma norma ideal, o que é supostamente “sadio”, mais “evoluído.
c) Socialmente constituída e referendada, por critérios socioculturais e ideológicos, às vezes, doutrinários e dogmáticos.
3. Normalidade estatística.
a) Identifica norma e frequência.
b) Aplica-se especialmente a fenômenos quantitativos, com distribuição estatística na população geral.
c) Indivíduos que se situam estatisticamente fora (ou no extremo) de uma curva de distribuição normal, passam a ser considerados anormais.
4. Normalidade como bem-estar
a) Organização Mundial de Saúde (WHO, 1946) definiu a saúde: completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença.
b) O bem-estar físico é difícil de definir objetivamente, e o completo bem-estar físico e social é tão utópico que poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”.
5. Normalidade funcional
a) É considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional, produz sofrimento para o próprio indivíduo ou para o seu grupo social.
6. Normalidade como processo
a) Considera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários.
b) Útil em psiquiatria infantil, de adolescentes e geriátricas.
7. Normalidade subjetiva
a) Maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação a seu estado de saúde, as suas vivências subjetivas.
b) O ponto falho é que muitas pessoas que se sentem bem “muito saudáveis e felizes” apresentam, de fato, um transtorno mental grave.
8. Normalidade como liberdade
a) Autores de orientação fenomenológica e existencial propõem conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial.
b) Assim saúde mental se vincularia às possibilidades de transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino.
c) A doença mental é constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades existenciais.
9. Normalidade operacional
a) Possui finalidades pragmáticas explícitas.
b) Define-se a priori, o que é normal e o que é patológico e busca-se trabalhar operacionalmente com esses conceitos, aceitando as conseqüências de tal definição prévia.
v Diante dessa variedade de critérios de normalidade e de doença em psicopatologia o profissional deve ter permanentemente uma postura crítica e reflexiva.
Questões de revisão
v Que áreas da saúde mental estão relacionadas com e implicadas no conceito de normalidade em psicopatologia?
v Quais são os principais critérios de normalidade interligados em psicopatologia e quais suas “forças” e “debilidades”?