1. Desenvolvimento Emocional e Ambiente Facilitador
· O bebê não constitui uma unidade em si mesmo.
· A unidade se constitui como uma organização entre o indivíduo e o meio ambiente, que é representado inicialmente pela mãe ou cuidador.
· Este ambiente é facilitador ao prover cuidados ao bebê que serão a base da saúde mental.
· Ao nascer possui um conjunto desorganizado de pulsões, instintos, capacidades motoras e perceptivas que com o desenvolvimento, integram-se até atingir uma imagem unificada de si e do universo exterior.
· As necessidades da criança nos primórdios são absolutas.
· A origem da vida psíquica ocorre com a criança gradualmente criando um meio ambiente pessoal, movimentando-se da dependência absoluta para a dependência.
· Há a necessidade de uma mãe suficientemente boa junto à criação de um espaço de proteção que permitirá que a vida psíquica se constitua, que a criança possa, com a sua vida pulsional, caber em si, no seu corpo.
2. Maturação Emocional
· Bebê nasce em um estado de não-integração. Os núcleos do ego estão dispersos.
· A meta é a integração dos núcleos do ego e a personalização (sensação de que o corpo aloja o VSelf).
· O objeto unificador é a mãe e a sua atenção (holding).
· Bebê não integrado através do cuidado materno e experiências de satisfação instintual (prazer) provocam a integração do ego, até constituir-se como self integrado.
· Integração: É obtida através de duas séries de experiência
a) Sustentação da mãe: “recolhe os pedacinhos do ego” permitindo que a criança se sinta integrada dentro dela.
b) Atividade mental do bebê: adquire noção do mundo e diferencia o “eu” do “não-eu”. Há cuidado para não sentir o exterior como ameaçador e perseguidor, isto é adquirido pelo desenvolvimento sadio e cuidado amoroso da mãe.
· Personalização: Alcance de um esquema corporal, denominado de unidade psique-soma.
· Adaptação à realidade: A mãe tem o papel de prover a criança com os elementos da realidade com que irá construir a imagem psíquica do mundo externo.
a) A mente se desenvolve através da capacidade de compreender e compensar as falhas.
b) É a medida que o ambiente falha que começa a existir para o bebê enquanto realidade.
c) É de fundamental importância que a mãe possa fornecer um fracasso gradual da adaptação para que a função mental do bebê se desenvolva satisfatoriamente.
d) O resultado será a capacidade do sujeito de cuidar de seu self, atingindo um estágio de dependência madura.
e) Quando o ambiente não proporciona os cuidados psicológicos o indivíduo assume o controle, o que pode ocasionar um distanciamento do VSelf.
f) Em estado de saúde a mente não usurpa as funções do meio, mas possibilita uma compreensão e eventual aproveitamento de sua falha relativa.
3. Cuidado Materno
· Mãe suficientemente boa:
a) evita imprevistos e se adapta às necessidades da criança, provendo um “ego auxiliar” que permita ao bebê integrar suas sensações físicas, os estímulos do ambiente e capacidades motoras nascentes.
b) Cria condições favoráveis para o sentimento de unidade entre duas pessoas.
c) Responde a onipotência do bebê e pode lhe dar sentido, “emprestando” força ao ego incipiente para dar vida ao verdadeiro self.
· Mãe insuficientemente boa:
a) A mãe que não é capaz de acolher e interpretar as necessidades do bebê gerará o falso self, onde as percepções e atividades motoras são apenas resposta diante ao perigo exposto.
· Preocupação Materna Primária: estado temporário de fusão entre mãe e bebê, necessário para o início da vida.
a) Cisão com a realidade para estabelecer a relação com o bebê.
b) Três características:
o sensibilidade exacerbada
o Amnésia
o Memória reprimida
c) Dependência do bebê e preocupação da mãe causam equilíbrio na relação.
d) Necessita de um ambiente facilitador para estar neste estado psíquico.
e) Bebê ajuda a mãe a sair deste estado respondendo aos seus cuidados, junto a força de ego da própria mãe.
· Dependência absoluta: quando o bebê é totalmente dependente da mãe, ela dá a ilusão de que o seio é parte do corpo do bebê, fomentando a sensação de controle mágico do bebê sobre o objeto externo.
a) Mas a criança não pode ficar eternamente presa a esse pensamento onipotente.
b) É necessário a internalização de cuidados e de confiança nestes cuidados, aumentando a capacidade de suportarfalhas e ausências.
c) Cabe a mãe promover de forma progressiva a desilusão que levará o bebê ao princípio de realidade.
· Dependência relativa: capacidade do bebê de esperar, de aguardar a satisfação de necessidades e desejos. O registro de cuidados recebidos se desdobra na possibilidade de cuidados consigo mesmo, relativizando a dependência com o meio.
4. Holding
· Protege contra a afronta física (tato, temperatura, sensibilidade auditiva, visual, quedas).
· Inclui toda a rotina de cuidados ao longo do dia e noite.
· Compreende em especial a sustentação da criança nos braços, que constitui uma forma de amar.
· É o fator que decide a passagem do estado de não-integração do recém nascido, para posterior integração.
5. ObjetoTransicional
· Primeira possessão não-ego (não-eu), não faz parte da mãe e nem do bebê, mas, ao mesmo tempo compreende ambos.
· Representa a mãe e deve ser vivenciado como um objeto bom.
· Têm um caráter de intermediação entre o seu mundo interno e o externo.
· Recebe três usos diferentes:
a) Processo evolutivo, como etapa do desenvolvimento.
b) Vinculada as angústias de separação e as defesas contra elas.
c) Representa um espaço dentro da mente do indivíduo.
· Pode também desenvolver-se de forma patológica e anormal.
· Ocupa um lugar de ilusão, é conservado pela criança (diferente do seio), e é ela que decide a distância entre ela e o objeto.
· Quando o objeto materno está danificado é pouco provável que a criança recorra a um fenômeno transicional.
· Fenômenos Transicionais: área criada com os objetos transicionais, também denominada de transicionalidade.
· Características do objeto:
a) Criança afirma uma série de direitos
b) O objeto é afetuosamente ninado e excitadamente amado e mutilado;
c) Deve sobreviver ao ódio, amor e agressão (possibilita a criança um fim construtivo e criativo).
· A ligação e o afastamento do objeto transicional deixa um espaço na mente do indivíduo, intermediário entre o externo e interno que se produz muitas das atividades criativas do homem.
6. Verdadeiro Self e Falso Self
· Quando a mãe não fornece proteção necessária ao frágil ego recém-nascido, o bebê percebe esta falha como uma ameaça a sua existência.
· O bebê vai substituir a proteção que lhe falta por uma “fabricada” por ele.
· A satisfação de um instinto resulta em fortalecimento do ego ou do self verdadeiro.
· O falso self é uma estrutura defensiva tem a função de proteger o verdadeiro self de condições ambientais anormais.
· As repetidas falhas maternas em satisfazer o gesto do bebê ou substituí-lo levarão a submissão, sendo o estágio inicial do falso self.
· Quando a adaptação da mãe é suficientemente boa, o bebê experimenta a onipotência até a sua renúncia, e gradativamente reconhece o objeto externo.
· Quando a adaptação da mãe não é suficientemente boa, o processo de uso de símbolo fica fragmentado e o bebê permanece isolado, assim, para sobreviver é forçado a uma falsa existência.
· Self Verdadeiro
a) Espontâneo.
b) Criativo
c) Sente-se real.
· Falso Self
a) Sensação de irrealidade.
b) Sentimento de futilidade.
· Graus do Falso Self
a) Oculta o VSelf: se implanta como real, é a pessoa real, porém, as carências essenciais acabam por denunciar o FalsoSelf.
b) Defende o VSelf: ao VSelf é permitido uma vida secreta.
c) Representação do FSelf: em atitudes sociais polida e amável (saudável).
· Análise do Falso Self
a) Esta associada a uma rigidez de defesas.
b) O contato inicial do analista é com o FSelf.
c) O analista deve estar preparado para a extrema dependência que antecede à emergência do VSelf.
d) O maior progresso na área do FSelf é reconhecer a não-existência do paciente.
7. O Método Psicanalítico: observação direta da criança
· Estudo da qualidade da interação e da adaptação da criança ao meio ambiente, através da reação do bebê por meio de gestos, a objetos que lhe eram apresentados.
· Avidez da criança diante do mundo: atitude subjetiva que comporta sua realidade psíquica, suas pulsões agressivas e criativas.
· Observação: análise de como o bebê interage com o objeto dá acesso aos elementos do mundo subjetivo e de sua organização, de sua dinâmica interno – externo.
· Refere-se a criança real e a reconstituída na experiência analítica.
· Elaboração das relações mãe-criança, o movimento vital da criança quando “cria” sua mãe – fenômeno de ilusão.
· Analista deve levar em conta a organização única do self de cada paciente, transmitidos: fala, agir e viver nos detalhes idiossincráticos de sua existência.
· Transferência: movimento do paciente em direção ao analista, que por sua vez, deixa se encontrar por este paciente, em sua singularidade. O analista deixa ser “criado” pelo paciente, assim como, ser destruído, coloca-se no lugar de objeto subjetivo.
· A clínica psicanalítica beneficia-se da relação mãe-bebê e do “holding”: a atenção do analista e o trabalho interpretativocriam o ambiente que propiciará a evolução do tratamento.
· Reproduz-se em certa medida o ambiente de holding dos cuidados maternos.